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A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida


Bob Buford, é importante empresário dos Estados Unidos. Por circunstâncias da vida, num dado momento passou a direção de sua empresa a profissionais do mercado, e tomou um caminho que lhe fazia mais sentido: o caminho da espiritualização. Nesse meio tempo escreveu o livro A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida – Mundo Cristão (lançado no Brasil em 2005). Nesse livro, ele narra a sua trajetória.


Toda a mensagem do livro tem por base uma metáfora inteligente, simples e prática. Ele diz que nossa vida pode ser comparada a um jogo de futebol: tem o primeiro tempo, o intervalo e o segundo tempo. O primeiro tempo é quando temos como foco o sucesso; o intervalo é quando passamos a refletir mais profundamente sobre o que estamos fazendo de nossa vida; o segundo tempo é quando substituímos o sucesso (do primeiro tempo) pelo significado.

Explica o autor que não necessariamente o segundo tempo faz-se presente numa idade mais avançada, tanto é que ele próprio escolheu entrar no segundo tempo quando tinha 35 anos de idade.


Importante: o autor, pela sua excelente condição financeira, teve e tem a condição de dedicar-se quase que integralmente a causas e projetos ligados à espiritualidade. No entanto, ele explica no livro o óbvio: para bem atuarmos no segundo tempo, não precisamos abandonar o nosso trabalho, aliás, nossa atividade profissional pode ser um dos mais importantes palcos da nossa atuação.


Para aprendermos com o autor, adepto do protestantismo, transcrevo adiante parte do capítulo 16 do referido livro, que – pelo seu conteúdo – é leitura recomendável (a apresentação do livro é do renomado e inesquecível Peter Drucker). Veremos como nos Estados Unidos algumas religiões estão adotando modernos treinamentos para a liderança religiosa e para o voluntariado, que podem levar-nos à motivação para construirmos em nosso movimento religioso a experiência de Bob Buford, qualquer que seja a nossa crença. O seu texto, pelo incomum primor em relação ao bom senso, deleita o leitor.



Palavras de Bob Buford


“O nosso Senhor nos ensinou a sermos como crianças (despreocupadas), a evitarmos as preocupações excessivas (evitar o controle por parte de demandas e posses) e não deixar que sejamos controlados por muitos mestres. E na carta que Paulo escreveu à igreja de Roma, o apóstolo explica a importância de controlar a vida interior para ter uma vida cheia de satisfação: ‘Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz’. (Romanos 8:5, 6). A ironia é que a Igreja se tornou um desses mestres que fazem com que muitos dos que estão no primeiro tempo se sintam desesperadamente escravizados. A alegria que deveria resultar de servir aos outros em nome de Cristo está ausente, porque a maior parte daquilo que fazemos em prol da igreja é feito por obrigação. E isso acontece porque no primeiro tempo nós ainda não descobrimos quem somos, que é que realmente gostamos de fazer e como até as tarefas mais desagradáveis podem ser experiências libertadoras e gratificantes quando se desprendem da essência do nosso ser. Para a maioria das pessoas, o trabalho na igreja não é um sorvete com cobertura de chocolate, e sim os brócolis e espinafre que mamãe as obrigava a comer quando eram crianças.


Quando tiver descoberto a missão da vida, você estará numa posição muito melhor para retomar o controle sobre seus esforços de boa vontade no ministério da fé. Ao invés de se alastrar relutantemente até mais um ‘final de semana de testemunho’, por exemplo, terá a liberdade de preferir deixar que a luz da sua fé brilhe naturalmente enquanto você joga bridge toda noite de segunda-feira com os colegas de trabalho. Assim, terá retomado o controle de maneira a juntar o seu desejo de servir a Deus, a sua paixão por um jogo de baralho e a sua demanda de desfrutar uma atividade de lazer com pessoas afins.


É alentador ver como algumas igrejas estão se tornando adeptas a combinarem a paixão com o talento. Robert Bellah, co-autor do livro de sucesso Habits of the heart (Hábitos do coração), caracteriza esta capacidade como uma função para ‘instituições de mediação’. Muitas igrejas estão criando posições de ‘diretores de recursos de voluntariado’ ou estabelecendo ‘equipes de ligação’ para ajudar as pessoas a descobrirem como aplicar o melhor de si à tarefa de fortalecer o ministério da fé através da igreja. Por exemplo, aqui em Dallas, a igreja presbiteriana de Park City lançou mão recentemente do que eles chamam de Programa de Ligação, que já criou mais de 2500 oportunidades de serviços distintos.


A igreja comunitária de Willow Creek, na região metropolitana de Chigaco, desenvolveu um programa chamado Network [rede] (hoje usado por muitas igrejas em todo o país), para ajudar as pessoas a enxergarem a sua configuração individual, visando colocá-las em tarefas adequadas de trabalho voluntário.


A igreja comunitária de Saddleback Valley, em Mission Vielo, Califórnia, ajuda as pessoas a encontrarem sua SHAPE [perfil] (iniciais inglesas das palavras descritas a seguir): Dons espirituais (‘Spiritual gifts’); Coração, paixões (‘Heart, passions’); Habilidades (‘Abilities’); Personalidade (‘Personality’); Experiência, know-how (‘Experience, know how’).


Para que os cristãos que estão no segundo tempo consigam reais avanços em termos de concretizarem as suas missões de vida, muitas igrejas mais deverão adotar esta abordagem para envolver pessoas. O meu ministério de fé, Leadership Network, tem uma unidade de pessoas que trabalham para criar a Rede de Treinamento em Liderança, um programa que realiza treinamentos de cinco dias para diretores de recursos de voluntariados em igrejas”.


Caro leitor, pelas palavras de Bob Buford, que transcrevi, fica claro que o movimento protestante nos Estados Unidos está sabendo bem enfatizar o treinamento dos seus líderes e dos freqüentadores de seus templos. Por que não aprendermos com eles quaisquer que sejam as nossas crenças?


Por que não criarmos em nossas comunidades religiosas treinamentos contínuos de liderança? Por que não criarmos Centros de Projetos de Voluntariado? E trazendo estas reflexões para nosso campo íntimo, por que, como Bob Buford, não acreditarmos que viver religiosamente é adotar atitudes construtivas também fora do templo religioso, por exemplo, num descontraído e saudável encontro de lazer com amigos?



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