A nova natureza dos significados empresariais
Apesar da palavra “destruir” ser sumamente associada a “extinguir”, “eliminar”, ela nos traz também o sentido de “transformar”. E transformação é uma das palavras-chaves deste artigo, pois entenderemos que a nova natureza dos significados empresariais não destrói as antigas naturezas, mas, sim, transforma-as. Complementa-as. A compreensão desta verdade nos levará à conclusão de que o mundo corporativo não precisa, ao contrário do pensamento comum, se autodestruir para atingir a maioridade empresarial, mas deve transformar-se.
Vamos ver a seguir as três naturezas dos significados empresariais, desde:
a primeira, que alavancou o mundo corporativo;
a segunda, que esboçou um sentido mais humano às empresas, e
a terceira que dá real amplitude às duas primeiras.
Caro leitor, entenda a locução “significado empresarial”, a qual é o mote deste artigo, como “razão de ser das empresas” ou “razão da existência das empresas”.
As naturezas dos significados empresariais são geradoras de crises e essas, se bem compreendidas e administradas, são geradoras de desenvolvimento corporativo. Portanto conhecer a natureza dos “significados” é o primeiro passo para compreender as empresas, e na seqüência, bem administrá-las para, por fim, alcançar o desenvolvimento do mundo corporativo.
I – A PRIMEIRA NATUREZA DOS SIGNIFICADOS EMPRESARIAIS
A primeira natureza dos significados empresariais foi sustentada na tese de que a empresa é fonte criadora de riquezas e novas tecnologias.
Um dos exemplos clássicos, que inicia dessa visão de empresa como fonte criadora de riquezas e novas tecnologias, foi o surgimento, no início do século XX, da Ford Motor Company. A Ford por muito tempo foi um modelo às novas empresas que surgiam. Ser uma empresa de sucesso era saber explorar da melhor forma possível a força dos seus funcionários. Os funcionários eram vistos como máquinas. Naquela época os funcionários trabalhavam 10 horas por dia, 7 dias por semana. Não havia descanso semanal nem férias. Era um trabalho escravo, remunerado e, pasme, naturalmente aceito pela sociedade e pelos funcionários, pois empresa não era lugar de analisar ou perder tempo com o fator humano; ao contrário era lugar para trabalhar, apenas.
II – A SEGUNDA NATUREZA DOS SIGNIFICADOS EMPRESARIAIS
A segunda natureza dos significados empresariais sustenta-se na tese de que a empresa é um organismo inserido na comunidade e, como tal, é instituição responsável social e comunitariamente. Para essa nova natureza imperar, a antiga natureza não deve nem pode ser destruída, mas transformada. De forma mais completa, a empresa passa então a ser vista da seguinte maneira, representando a junção das duas naturezas:
Segunda natureza dos significados empresariais: Empresa é a fonte criadora de riquezas e novas tecnologias; instituição responsável social e comunitariamente.
Nessa segunda natureza as empresas despertaram para sua função social. Passam a ser comunitariamente mais responsáveis. Funcionários, clientes e fornecedores são compreendidos como seres humanos, não como objetos com braços e cérebros (mais braços do que cérebros!), como na época da primeira natureza dos significados empresariais.
A ética agora faz parte dos valores da empresa. A integridade assumiu poderes excepcionais no inter-relacionamento empresa e mercado. Teoricamente, as empresas, sob a égide da influência da segunda natureza, passaram a ser ideais. Teoricamente. Um discurso bonito e empolgante proliferou-se nas empresas comprometidas com essa segunda natureza, e, por que não dizer, a boa vontade dos dirigentes em tornar realidade a existência de uma empresa responsável era (é) um fato. No entanto, havia (há) um fosso entre a realidade e o discurso bonito e muitas vezes sincero dos dirigentes empresariais. Contudo, se havia boa vontade e sinceridade nos propósitos, por que a realidade se apresenta de forma tão diferente? Por um só motivo: essas empresas ainda não assimilaram a terceira natureza, assunto do próximo item.
III – A TERCEIRA – E ÚLTIMA – NATUREZA DOS SIGNIFICADOS EMPRESARIAIS
A terceira natureza dos significados empresariais, ainda em gestação, sustenta-se na tese de que a empresa é a instituição geradora de atitudes proativas de valorização do indivíduo. Também como na aplicação das outras duas primeiras naturezas, para que essa impere, as antigas não devem nem podem ser destruídas, mas transformadas com a força desse novo complemento. De forma mais completa a empresa começa a ser compreendida da seguinte maneira, representando a junção das três naturezas:
Terceira natureza dos significados empresariais: Empresa é a fonte criadora de riquezas e novas tecnologias; instituição responsável social e comunitariamente e geradora de atitudes proativas de valorização do indivíduo.
Nessa terceira e nova natureza a empresa permanece vista como fonte criadora de riqueza e novas tecnologias, mas não só. Precisa ser entendida como instituição responsável social e comunitariamente, mas ainda não é suficiente. Agora “o indivíduo” torna-se o centro da atenção, seja o indivíduo-funcionário, o indivíduo-cliente, o indivíduo-fornecedor ou o indivíduo-acionista. A partir de cada uma das figuras citadas, a nova natureza dos significados empresarias enxerga um ser humano.
É verdade que na segunda natureza as pessoas também eram valorizadas como seres humanos. A diferença entre as duas é que, na segunda natureza, o ser era visto com humanidade, mas perdido numa massa populacional. Nesta nova natureza o indivíduo continua a ser considerada um ser humano, mas de forma individual. Em outras palavras, sob vigência da segunda natureza, o foco era a coletividade (algo abstrato), e, na terceira natureza, o foco é a individualidade (algo concreto).
Para entendermos ainda melhor a diferença mencionada:
Na segunda natureza, o cliente ganhou voz e valorização como ser humano. Por exemplo, as empresas criaram o sistema de atendimento ao consumidor. O cliente, ao comprar um produto com defeito, poderia reclamar. No entanto, ao telefonar para a empresa, ouviria uma voz gravada, dando-lhe algumas opções como “aperte a tecla um se quiser...”, “aperte a tecla dois se quiser ...”, e assim por diante. O cliente tem voz dentro de uma massa humana, e não de forma individual. Nesta nova e terceira natureza, o cliente, ao telefonar para o serviço de atendimento ao consumidor, será atendido de forma individual e pessoal, isto é, uma voz humana, viva e simpática vai atendê-lo, tratando-o de forma familiar, respeitosa e com muito afeto, tratando o problema o problema a partir da perspectiva do cliente. Eis a grande diferença. Essa nova postura empresarial é um grande desafio para as empresas, mas eficiente é a empresa que enfrenta rápido esse desafio, enquadrando-se nessa terceira natureza.
A empresa da terceira natureza é aquela que tem alma. Nessa nova e terceira natureza, os dirigentes empresariais terão um peso importantíssimo para apontar o caminho, atuando como elemento facilitador da implantação dessa nova fase. Mas, ao contrário do que se pensa, o sucesso não será fruto direto das atitudes dos dirigentes corporativos, apesar da conduta desses ser muito importante.
Nesta nova fase, a responsabilidade individual dos funcionários, dos clientes, dos fornecedores e dos acionistas, será o grande mote. Não caberá mais ao funcionário reclamar do líder, mas de si mesmo, por não ter vontade e força para criar, com afeto e pulso firme, um ambiente e uma saudável pressão geradora de um novo contexto. Nesse sentido, nós não poderemos transferir a responsabilidade de mudança para os outros.
Essa nova fase será difícil de ser implantada, pois implica o enfrentamento de vários desafios individuais, isso é, implica a auto-valorização do ser humano, no desenvolvimento do amor-próprio e no descobrimento de sua essência superior. Depende da descoberta e da vivência da centelha divina presente em cada um de nós. Tudo isso numa época em que o egoísmo se faz tão presente. O desafio é grande, mas não há outra alternativa para o mundo. Felizmente, outras correntes surgem nessa boa direção. E um exemplo marcante é a base da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco) para orientar seus projetos de ação para o século XXI. Sob o auspício da fundação francesa Jacques Delors, e com a contribuição de especialistas da área da educação de todos os países associados, a UNESCO mostra “um rumo” para a humanidade. Os roteiros e currículos de aprendizagem serão estimulados a se assentar em quatro pontos: aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser. Essa contribuição da UNESCO, centrada em valores e habilidades, é um marco para o mundo educacional e corporativo em geral.
Reitero: a terceira natureza dos significados empresariais será difícil de ser implantada, mas possível. E considerando os desafios atuais do nosso globo, esse é o caminho menos doloroso. E, para bem trilhá-lo, desenvolvermos a cultura do diálogo deixou de ser necessária e passou a ser fundamental.